edição 18 | julho de 2007
em nome da mãe

 

oração por minhas filhas
roberta silva 

 

 

Carregar a fina louça

nas trevas por essa trilha:

eu, que sou tão tosca

e que delas pareço filha.

 

Pai! Apiedai-vos de mim,

delas, de nós.

Endireita o que eu caminhar torto

e quando eu for ventania,

sede Vós, para elas, o porto.

 

a balada do fogo azul
romina conti

As velas nem aquecem as vendas dos fabricantes de velas era o que eu ouvia quando a minha mãe sorria olhando o infinito. Antes muito tempo fora daquele tempo em que eu havia narrado anteriormente, este em que a minha mãe olhava o infinito, minha mãe usou quase que uma caixa de fósforos inteira para acender aquela vela a São Caetano. Aquele santo fora capaz de modificar a vida da mulher do Trindade, ela recebeu muitas graças inclusive o filho pequeno que dormia que roncava baixinho feito um carneirinho. Também Luzia, outra vizinha, havia conseguido ganhar um rádio na rifa, que naquele exato momento tocava uma canção triste, mas alegre com tudo que a vida pode ter de mais dicotômico. O Armando era o mais contente e havia ampliado a sua fábrica de velas. E assim poderia citar mais umas cinqüenta pessoas que morreram no incêndio provocado pela minha mãe naquele dia. São Caetano... São Caetano!

 

 

 

 

 

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