edição 20
| setembro de 2007
andar de baixo 18 de setembro de
2007. Ingrata
Antônia Então é assim? Partes para a
Índia, para escrever uma história de amor, e me deixas a ver
navios? Não tens piedade,
Mulher-sem-coração? Como és capaz de trocar a nossa por esta outra lá do
fim do mundo? Nem tiveste coragem de me
dizer, cara-a-cara, que partias atrás deste outro um, Desalmada. Vê se
agüento ouvir pelos corredores que minha mulher partirá atrás de um
indiano qualquer! Isto não mereço, Minha Cara Infiel. Não levaste em conta
os anos que te espreitei silencioso pelos corredores. O quanto fui
humilde, colhendo tuas migalhas de sorrisos que muitas das vezes nem se
dirigiam a mim. Não! Não me levaste em conta! Vai-te, Megera! Vai-te agora
- pisoteastes demasiadamente este pobre eu. Dá-te por
satisfeita! Tirana, Maldita, acha que
terás o gosto de me olhares por cima quando voltares a exibir faceira tua
pele renovada? Engana-te. Não o fizeste antes, não o fará
agora. Vou-me! Vou-me deste prédio
para sempre, mudarei para longe e levarei tudo de mim que era teu, Senhora
Sacana! Não queiras encontrar na volta relíquia sequer que te leve a
descobrir quem sou. Tiveste, por anos, a chance de saber de mim, Antônia
Cruela, e ignorastes meus olhos pedintes, que a observaram por detrás dos
móveis, plantas, portas cúmplices deste meu amor maltratado.
Deixo-te agora, Bandida, não
porque disse tudo que merecias ouvir, mas porque chega aqui o caminhão da
mudança. Sem mais nenhum dedinho de
prosa, subscrevo-me, Mindinho, Seu
Vizinho.
om mani padme hum Antonia
Que a sabedoria de Ganesha e
o amor de Krishna por suas 16.108 esposas guiem seus dedos, resplandeçam
em suas letras, te protejam e abençoem.
nove e meia semanas de briga nove dias
depois nove anos se
passaram nove vezes te
beijei nove
padre-nossos nove
ave-marias nove dias da
morte dez anos
correm dez palavras
morrem dez dias de
solidão dez sonetos de
amor dez nota
dez desencontro
total ao
saber que nem cem anos ou
mais um
pouco durou a
guerra de cem
anos e o
amor?
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