despenca do espelho novo um
convite para amanhã. na manga do mágico uma foto,
uma torta de ricota. bronze um chá, cor de tachos
ciganos: a sorte está na
estante.
flu-
olho o rio meu espelho
caiouá. o barco aqui e nada entre nós turva esse espírito limpo e aqüoso
cujo espaço se desdobra aos meus olhos. sou o rio. não sei dizer do tempo pois
aqui tudo manifesta o grande círculo cósmico, a grande geografia do meu
corpo que permanece durando e aguarda - mesmo se tenho pressa pois o barco
é de papel e o grande espírito das águas vai devorando-o aos poucos. sem
dor. numa delicada operação cirúrgica e desmaterial, num ritual de profana
decomposição. os barcos de papel sempre solicitam viajantes munidos de
leveza e transcendência. percorro minha bagagem com
os olhos, examino que leis da física irão decidir o tempo que ainda tenho.
escuto o som das pequenas ondas suaves [satie...satie] invocadas pelos
sete xamãs da terra e observo o vento que hoje sopra alto. leva as nuvens
que se transformam em coelhos, árvores, monstros ou anjos. elas também têm
pressa de criar mundos fantásticos que o espelho do rio deixa levar em sua
superfície conforme o aspecto lunar ou solar, conforme a voz da correnteza
e seu vaivém. ontem vi passarem as rosas,
muitas e em tons escuros, de um laranja intenso quando o sol se pôs.
passaram os ratos da água
com seu chio estridente, duas horas e trinta e cinco minutos, ninhadas se
multiplicando com suas nadadeiras improvisadas. depois vieram os caixotes de
papelão aos magotes. vazios, desmantelados, debatendo-se à esmo
demoraram-se dando voltas em torno do barco. numa box-dance de pina bausch
uns iam-se para depois voltarem perdidos, até desaparecerem como
miniaturas no horizonte. aguardei. surgiram boiando
armamentos de alguma antiga guerra entre os homens. eram como objetos não
reconhecíveis, o radar nada indicava além do ir-e-vir da água
carregando-os inertes, pacíficos, sem mãos. adormeci. não sei se por
muito tempo mas um balido me despertou. era o rebanho alvo e veloz das
ovelhas - flutuando pareciam guiadas por algum deus invisível e sagrado.
emitiam sons quebradiços, impacientes, rápidos. depois vieram os babuínos
nadadores, os relógios, uma solene coorte de
fantasmas. por fim a noite caiu. uma
miríade de estrelas e pequenos astros desenhou algumas constelações
brilhantes, bordando o teto celestial de minha casa marítima - miraram-se
luminosas na ondulação suave
da água . hoje o dia amanheceu branco.
uma névoa densa cobriu toda a paisagem. pescadores recolheram
vagarosamente as redes e os muitos peixes, algas. içaram meu corpo do fundo da
água. eram três escafandristas e ainda escutava-se o eco, as lembranças
das bailarinas rodopiando, o sussurro do espírito de bakun, os tocadores
de violino, o rumor dos engolidores de fogo, os gatos do mar, o frescor da
passagem dos pequenos tornados, o silêncio do espelho
cristalino.
(com
infiltração metalingüística &
ideológica)
A Feia inquieta
sobremaneira. Mais que A Boba. A Boba tem um universo: Sheiquispir,
Dostoievisqui, Clarice, Anita. Mas A Feia? Antítese de O Belo. Ambos em
redemônio de irreflexão. Uma em rejeição total, o outro atraído pela
superfície. O Belo s'incomoda com artifício. Não a beleza de A Boba. De
estranheza, ímpeto novo, coragem em subido vôo. O Belo atrai A Feia em pathos melancólico, enfarruscado
semblant. No íntimo A Feia sonha ser A
Bela. Algumas vezes é. Acordando do sono letal, vestida por mãos de fada.
Pensa elementais <<<<< comentário crítico-despeitado -
ECTOPLASMAS NO ESTÔMAGO! COME ANANÁS, BURGUÊS! - comentário
crítico-despeitado >>>>>. Em devaneio mórbido dança com O
Belo, principinho do Chateau
Pavões-Apavorados-ante-Trotskistas-Dervixes. Sob vestes de bon-goût uma
outra se metamorfoseia. A voz áspera, desce pérola, bebericando o vinho
avinagrado de Santa Felicidade <<<<< espaço do patrocinador
- ONDE SE FABRICA O MAIS AUTÊNTICO ITALIANO, "Alguém mais belo que eu?",
a pergunta não quer calar. Camundongos na platéia bocejam Uoooouuuouooouo.
O anti-espelho leva a question
metafísica em espirais, em túnel de vento. <<<< caco ato falho
de leitor entediado - TROÇO CHATO MEU. DÁ PRA ENTENDER NADA. A LUA
CONTINUA - caco ato falho de leitor entediado. >>>>> A
Feia, doravante camuflada n'A Bela, responde: "Só tu é belo como
eu". O Belo encantado pela voz
locutora de rodoviária se enrodilha. Perdem-se em passos de balalaica até
a meia-noite soar sininhos. A Feia, fascinada, esqueceu: o feitiço tem
hora marcada. Continua a bailar, o vestido em farrapo, após as badaladas.
"Não é Dior", horroriza-se o principinho. O desaforo atira a Miss Encene
para além do passa-prato, e a Feia rolando chega à fronteira de
Trás-os-Totens. A Feia choraminga. Amaldiçoa
O Belo. Praga de bruxa cola. Ele vira sapo. Coaxando, diante do espelho,
si pregunta: "Jesucristinho, tem neste mundaréu arguém mais caruru qui
ieu?". A Feia, em revanche, se compadece. "Vambora". O sapo puxa a abóbora
até tudo pretear em nuvem de gafanhotos chineses.
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