tua língua solta pelo mundo afora e abaixo do umbigo
"¡Oh, qué delicia! Jugar con fuego".
Leila, rumoreja, sim? Arqueia o peito e lamenta qualquer coisa, qualquer coisa. Invade o teto do apartamento inteiro com o abdômen já fatigado das linhas retas colunais. Contradiz e depois aprova, impudente. Envia o rosto para longe da garganta. Aperta a garganta, cada vez que tanjo, como se esta fosse diretamente ligada à pele das coxas, das orelhas. Devora a comida da mesa, bebe a água dos córregos, fuma os cigarros dos homens sérios, lambe o suor que trago nos vincos e nos dedos, e grita na língua morta, cheia de arpejo, que enterraram ciência e geografia entre as tuas pernas. No hálito farto, me atordoa: sê hábil com os enigmas, sê.
10 poemas
comensais
a cama caminha vai como um camelo cálida camurça começa com a moça por cima do moço
el loco motiva-a — goza goza mais um pouco
dio santo
um moreno tão bonito quando fito seu semblante sinto a pele se eriça desce um frio baixo/ventre dentro em mim faz-se um precisa-se deus do céu o que são issos premências?
esse é o ponto
reboliço alvoroço moço eu lhe peço não me faça isso depois do almoço
pare pare pare não recomece queria ser de aço sou de carne e osso
não me atice falta-me pulso careço preciso necessito lavar a louça
rameira
vi-me em cama de vime
havia um lugar um homem a cavá-lo um homem a cavalo
um ponto
cruz
tinha hímen complacente seria virgem — e para sempre por mais homens que viessem
prenderam-lhe a alma entre as paredes do corpo não chora não ri não beija não pergunta nem responde fica horas e horas sem se mover a olhar o teto
céu ou inferno?
(e)vidências
algo me diz tem cuidado sigo a intuição
se o coração dispara eu paro ouço o alarme vejo raios relâmpagos trovões tempestade o diabo
o coração não me engana
versinhos encapetados
quando nasci não havia anjo disponível então um capetinha com um tridente espetou o meu traseiro e disse — vai cai na vida antes que alguém repare que não tens cacife que teu fôlego é curto que para sobreviveres morrerás mil vezes
temos asas viradas para dentro
ninguém é só bom ou ruim pensem o que pensem assim somos mestiços de anjo e demônio
cruz credo
perco o sono sinto medo pisco um olho fecho o cenho tudo escuro muito preto eu campeio pelo quarto acho um terço pendurado bem no meio do pescoço da mula-sem-cabeça
(avemariacheiadegraçaosenhoréconvoscobentitasoisent reasmulheresbenditoéofrutodovossoventrejesussantama riamãededeusrogaipornóspecadoresagoraenahoragá)
ruindade
a dor sem entranha montava-lhe as costas fincava-lhe o ferrão a espora o chicote insistia — galopa galopa galopa e a pobre anciã já sem força gemia não posso não posso n ã o p o s s o
deus e o diabo espiavam de longe
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