edição 9
| agosto de 2006
pianice ai, quem me dera ser o seu piano.
tri o cheiro de canela
Ao olhar a mesa farta, nem sei por onde começar. São vários os tipos de bolos, pães, misturas e fiambres. Opto por um bolo inglês coberto de chocolate. Dou a primeira mordida e algo estranho acontece. Um dos meus dentes cai, ficando preso ao bolo. Na boca, um gosto de sangue. Pego um guardanapo para estancar o ferimento. Guardo o dente, pois posso precisar. Vejo um pão doce, com uns farelos por cima, feitos de açúcar e canela. O cheiro da canela me seduz. Coloco-o todo na boca. Ao mastigar, sinto que meus dentes estão amolecendo, se desprendendo da gengiva e juntando-se à massa do pão. Nessa mordida, perdi mais da metade delels e, os que ainda restam, estão por um fio. Começo a chorar em descompasso e acordo com um gosto de sal. Acendo a luz e me olho no espelho, sorrindo.
a perseguição
Caminho por uma rua pouco iluminada. Sinto alguém vindo atrás de mim. Aperto o passo. A sensação fica mais forte. Escuto uma respiração forçada. Não tenho coragem para me virar. Estou quase correndo. A presença está cada vez mais próxima. Tento gritar, mas a minha voz não sai. Fica na garganta, sufocando-a. Dou um passo em falso. Vejo um rosto conhecido. É meu pai que segura a minha mão, impedindo que eu caía. Sinto um conforto momentâneo. Mas olho para o lado e ele não está mais lá. Estou sozinha de novo e a presença me espreita. Saio correndo em disparada. Uma corrida louca para o nada. A perseguição continua, agora, no telhado de um prédio. Salto de um telhado para o outro. Não adianta, está cada vez mais perto. Mais perto. Sinto um frio no estômago ao me atirar do telhado. Vou caindo até tocar o chão. O barulho acorda o meu marido que pergunta como fui parar ali.
ela
Tem algo nessa velha que me é familiar. Algo ruim. Sua imagem me causa arrepios. O pior é que ela aparece em todo lugar. Quando estou em uma roda de amigos, ela se aproxima e pára do meu lado a escutar. Usa óculos grandes e quadrados, com armação marrom e lentes grossas. Seu cabelo é todo branco, nem curto, nem comprido. Só branco. Sua expressão é sempre austera. Vejo meu irmão quando ele tinha nove anos de idade, saindo do colégio. Ele se despede dos amigos e arrasta a mochila a caminho de casa. A velha o está seguindo. Ele nem se dá conta. Eu fico nervosa assistindo a tudo, sofrendo, pela ameaça de perigo. Vou ao seu encontro, correndo. A velha diminui. Eu passo o braço por cima dos ombros de meu irmão, protegendo-o. Olho para trás e ela não está mais ali. Reaparece em meu quarto. Tira os óculos para deixá-los ao meu lado na cama. Acordo aos berros.
duenssas lacra o envelope tenho febre ali dentro a poeira das mãos no meu rosto avermelhado ali dentro choveu, era falsa a chuva digitais, meus sonhos agora, digitais continha um quebra-cabeça saiba mais sobre os delírios de agosto
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