edição 17 | junho de 2007
poema de um poeta que não existe

 

intransitivo
adelaide do julinho

tudo faz sentido:

sua mão

dentro do meu vestido

 

 

reza
dominique lotte

se limparem as paredes do meu

casto lar

saberão: estou morta

sem calar

acorrentada ao meu último coito

berro:

- me faz gozar!

 

 

 

soneto XX
eugênia fernandes

Como pode ser tão estranha uma mão?

Sim, a nossa que assim a olhamos

a fazer no poema uma nova correção,

a correção daquilo que somos.

 

E somos o quê? Nessa vã indagação

consumimos a vela que ganhamos.

E nem adianta, a mais nobre evasão

se iguala ao achado e ao que criamos.

 

O cheiro que só a infância sabe,

ou melhor, a memória dessa infância.

Pode até ser que esse mundo desabe,

 

mas é nessa impalpável instância

que todo ele se encolhe e cabe

como a mais pura e irreal fragância.

 

 

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