não tinha direito a
gerar. seus melhores filhos foram
deixados à porta de seus acasos. uma porta sempre aberta para
quando partissem, sem adeus e sem
palavras.
como se faz uma
monstra Ele saltou da cadeira,
voando com o lençol nas costas. Era o grande morcego que comia abóboras
falantes. - Tchelo, vai pra cama.
A Monstra montada no
cavalo-vassoura queria impedi-lo de continuar brincando. Não, seria o fim do mundo do
faz-de-conta. Pegou o carro com três rodas
mambembes e fugiu para o Vale das Neves. - Ô guri, não enfia o
carrinho no açúcar. Deixa isto aí. A Monstra o descobriu. Devia
fugir para um lugar onde não pudesse ser encontrado. Antes devia achar uma
arma para combater a Monstra. Podia ser a Espada Secreta. - Aí, põe o guarda-chuva de
teu pai no lugar. Sabia que a Monstra
confundiria a Espada Secreta com o guarda-chuva do pai. Monstras não são
muito espertas. Acham que os super-heróis bagunçam o mundo. A Espada Secreta o
protegeria dos raios das reclamações mortais da Monstra.
- Pára de abrir este
guarda-chuva, moleque. Os raios de mau-humor
tornavam-se mais fortes! Ele tinha que reagir. Felizmente encontrou o
tanque-ceboleiro e passou a disparar. - Que peste. Deixa as minhas
cebolas em paz. A Monstra acha que é dona do
tanque-ceboleiro. Os tanques-ceboleiros foram inventados pelos Cientistas
Malucos da Cozinha para combater Maesmonstras. - Aqui não é lugar de
brincadeira. Vai dormir antes que eu perca a paciência com você.
Opa, esta tática já era
conhecida! A Monstra costumava dar estes avisos antes de se lançar com
fúria sobre ele e levá-lo pelas orelhas até o quarto. Precisava do tanque-batateiro e do
tanque-alheiro. - Eu te mato, seu desgraçado.
A Monstra vinha dar o golpe
final, mas nesta hora abriu-se a porta da cozinha e o Monstro chegou.
- Calma, o que você vai
fazer? - Esta peste só faz bagunça. Leva
ele daqui. O Monstro virou ele de ponta cabeça, veio fazendo cócegas na barriga até ele pedir água. Ele pediu água, o Monstro deu um copo com água, beijou ele, disse tiamo, deu boa-noite e apagou a luz. No escuro ele ficou contando as estrelinhas luminosas do teto até 97 depois seu olho foi fechando sem ele querer. Só acordou no outro dia, aí a Monstra desmonstrou e abraçava ele, tão bonita, agora em nome da Mãe.
maria eulina Maria
Eulina adora brincadeiras de roda. Passa os dias, e parte da noite, com os
ouvidos grudados na pequena vitrola cor-de-rosa. Conhece de cor todas as
músicas. Sem
amigos para formar uma roda, diverte-se com as bonecas, a mãe e a
empregada. Também sonha com príncipes encantados e diz que vai se casar
com um bem bonito, que a levará embora em um cavalo branco
alado. Maria
Eulina é feliz, mas ultimamente anda sentindo um peso estranho no corpo,
um cansaço esquisito. Sente vontade de contar à mãe, mas tem medo de tomar
injeção. Prefere se queixar às bonecas, ou à fada bonita que vem visitá-la
de vez Pensando
bem, talvez fosse melhor ser fada à princesa encantada. Quem sabe, assim,
a mãe e a empregada deixassem de lado aquele jeito triste todas as vezes
que a olham. Maria
Eulina tem 19 anos, está grávida e não sabe quem é o pai de seu
filho. Pode
ser qualquer um. Maria
Eulina é feliz. Um
anjo feliz que habita um mundo cruel e doente. E ela nem
sabe. Nota
da autora: a maternidade, entre tantos acontecimentos na vida de uma
mulher, talvez seja o mais bonito. Refiro-me, no entanto, à maternidade
consentida e desejada. Porque, de resto, a decisão em gestar e parir cabe
somente à mulher.
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