edição 5 | abril de 2006
uma cor

 

poema trópico
bruna beber

queria tomar um café

com bananas

em companhia da gioconda

dos subúrbios

 

lhindonésia

 

minha parafernalha

a minha pilantrália

a minha tropilantra

 

dia amarelo de verão

céu azul

e meu amor vermelho

por lhindonésia

 

não vou chateá-la

falando do barquinho

de Ipanema

ou de cinema

novo

 

morena rosa, boca-de-ouro

mulher amada

maria ninguém

cheirando a abacaxi

 

encostada ao pau-brasil

me convida para ouvi-la

desafinar uma canção

sobre a tardinha.

 

 

 

bleu, blanc et passion
dominique lotte

- fiz uma descoberta intrigante hoje... detesto o azul.   

- mas o azul é uma cor bonita, muito calma muito serena e muito...

- ...chata, o mar é azul, o céu é azul, azul por toda parte, um porre, "tudo azul, querida?", que coisa mais cafona!

- transmite emoção...

- ...tristeza, I'm feeling the blues, tem muita tragédia, escravidão na colheita do algodão nos Estados Unidos...

- ...e beleza, e arte, o jazz.

maybe... concordo que as cores representam qualidades morais... amarelo - covardia, branco - pureza, preto - mal, verde - inocência.

- e o branco também é da covardia, bandeira branca da rendição, As Três Penas Brancas, símbolo da covardia no exército Imperial Inglês, viu o filme?

- vi, mas o covarde virou herói e ficou com a mocinha.

- verde é de inveja, inocência jamais.

- o negro, um horror, a bandeira negra do anarquismo, camisas negras do fascismo.  

- as cores são levadas para a guerra, Bleu Blanc Rouge, Allons enfants de la patrie, morte e podridão, vermelho é terror e fracasso, bandeira do comunismo e stalinismo... o proibido, STOP, PARE, NÃO AVANCE.

- vermelho é paixão, é mulher.

- ...quer dizer mulher pendant ces jours?

mais biensur, lógico, todo mês, nunca falha, a não ser...

-  ...e por que paixão? parece ser mais castigo... por que sorri com esse ar quase orgástico?

- porque me lembro dele... fazia um amor louco comigo naqueles dias.

- que absurdo!

- ...e você quer maior prova de amor passional que esta?

 

 

 

 

 

 

3 sonetos
eugênia fernandes

soneto III

 

Para Ruy Espinheira Filho

 

Só em ter perdido a manhã a laborar,

pois na vida o estômago vem primeiro.

Não ter sorvido o domingo no mar

e o sol azuluz com seu seteiro

 

desfraldando em panorâmica o lugar

como da gávea viam os velhos marinheiros.

Não perdi o dia. É outro o meu navegar,

prefiro salsugem do que a outro cheiro.

 

Mas agora é tarde e o mundo se nega.

O corpo é um desgaste que envelhece.

Carregamos ou alguém nos carrega?

 

Desvendado? Nosso mistério só cresce

como um que vê e o outro que enxerga,

mesmo esquecido ele não se esquece.

 

 

 

 

soneto V

 

(Exercício em voz masculina)

 

Você não vale um verso

de rima ruim e ritmo cru.

Contra seu corpo me arremesso

furioso, sedento e nu.

 

Você é um erro impresso,

mas um erro em tinta azul.

Contrafeito me confesso

reticente num calundu.

 

Trabalhá-la até o esgotamento

e saber-se preso eterno a ti

como o mundo ao seu centro.

 

Mui difícil resolvê-la aqui.

Busco antes o aquém de dentro,

a distância afundada, o nadir.

 

 

 

 

soneto VIII

 

Na ponta do prédio

o bem-te-vi pousado

canta não de tédio

(procura ou é procurado?).

 

Seu pio é um chamado,

talvez último remédio

de ser em si exilado

lá no alto do prédio.

 

Besta como toda gente

(o cinza da plumagem),

ele também mente.

 

É dúbia sua imagem:

é o único resistente

ou logro da paisagem?

 

 

 

 

 

soneto mandê
florbela de itamambuca

 

pulei pro vento forte da ressaca
quando o mar tava grosso e a lua grande
mas antes que o reponto já se abrande
me pescaram de volta na itamaca

 

e veio o sopro fresco e eu vi a alpaca
das roupa branca e vi também meu sangue
no zóio do pajé que espiou mandê
mascou jaborandi e embruxou maraca

 

voltei depois pra ver a praia brava
pra sentir pé na areia abrir sorriso
na mata verde a lua me caçava

 

se pulo ou não no azul inda é indeciso
se subo a pedra preta o índio me trava
no branco das idéia eu improviso

 
 
 
 

 

4 poemas
jane sprenger bodnar

gravura

 

 

imprimes em papel de seda

as nuvens de tuas lágrimas

até que só haja

uma linha d'água

 

 

 

 

*

 

lua em pólen

complô de vaga-lumes

à flor dos poros

 

 

 

 

 

alto-relevo

 

as falhas da calçada aninham as primeiras plumagens de outono,

já castanhas, mesmo não sabendo piar

quando pisoteadas pelo vento.

 

 

 

 

*

 

na bruma que insiste

a luz invade

transpassa

apaga

e imprime o prisma

logo adiante

um sol diamante

 

 

 

compartilhar:

 
 
temas | escritoras | ex-suicidas | convidadas | notícias | créditos | elos | >>>